28.9.05

Não quero mais querer
e nem desejar e nem querer
não quero nada
Nem sentir falta de nada
de ninguém
de nada
Não quero dias de sol
Não quero friozinho, para não quere vinho
para não querer você e nem ninguém
Me ligue e não vou querer atender
Pense em mim e não vou querer pensar em você
Se pensar, foi sem querer
Não desejo nada
Nem o mal
Nem o Bem
de ninguém, até o fim
e no fim não vou querer ninguém lá
Nem para estender a mão
Nem para chorar
Nem para se aliviar
Nada
Ninguém
Nem açucar, nem escrever, deus me livre escrever
Ou sonhar, o querer sobrenatural, subconsciente
Pílula anti-sonhos
Acordados e dormidos
Nenhum desejo me assombrará
Posso ter medo
Posso sentir frio
Posso engordar, adoecer
Mas não amar, porque amar é querer
E eu não quero, nunca, ninguém
Só eu, aqui, não me importa amanhã
Não me importa depois
Não quero saber
Podia nascer de novo e não saber de nada
Mas não posso querer
Querer corrompe
Destrói e come vivo
Como quem quer comer
Ou não quer comer
Acabou meu querer.

Answering Machine


-Cara... Você nem acredita no que aconteceu quarta-feira...
-Humor me.
-Achei Get Behind Me Satan do White Stripes!
-O quê? Não é possível!! Onde você achou isso?
-Comprei uma rua no Ebay, né?
-Ok...
-Tinha uma loja abandonada cheia dessas tralhas: videophone, pen drive e coisas afins.

-Certo, mas e aí?
-Acontece que no pendrive tinha essas pastas com mp3, aí conectei no meu relógio e voilá!
-Demais, cara! E como você vai ouvir essa raridade? Cara, mp3 do White Stripes... Há quanto tempo não ouço falar nisso...
-Pois é, meu avô tem uma coleção de mp3 dessa diva dos anos 00, uma tal de VV, nunca ouvi falar, coisa de velho mesmo, de qualquer forma, ele tem um Ipod, já ouviu falar?

-hahahahahaha, cara, meu pai é antropologista e me mostrou uns hologramas de coisas que os pais deles usavam nos 00's, e tinha esse Ipod, o troço era muito gigante!!! Você nem imagina. Quero ver você aguentar o peso daquilo, vai ser muito engraçado!
-Ah, tudo bem, é algo que devo fazer, ouvir rock and roll de verdade, não isso que os andróides fazem, eles não tem alma, como podem saber de música e sentimentos?

-Lá vamos nós de novo...

-Tudo bem, deixa pra lá. Se você quiser ouvir música de verdade, criada por seres humanos, entra no servidor de Saturno no terceiro ciclo, vou fazer um playlist lá!
-Ah é, esqueci que você faz esses bicos de P.J....
-Já pedi pra não me chamar disso, sou um músico, um organizador musical se você preferir, não me compare com essa corja maldita.
-Ok, acalme-se, só estava brincando. Vou indo, então. Tenho um encontro com uma lunática.
-Louca? Ou da Lua de Angelina Jolie?
-Da Lua de Almodovár.
-Ah.
Ei, é sério que Microsoft se chamava Brasil nos anos 00?
-Acho que é lenda, vai saber. É que nem essa história de que os Estados Unidos e a Russia eram as maiores potências... Por favor, história mais manipulada impossível, isso é por que Microsoft tem como fundador um americano.
-Vou lá então, cara. Até outra hora!

-Até.
Fim da Mensagem...
Bliiiiiiiiiip.

25.9.05

13.9.05

« Les nourritures terrestre » André Gide (traduçào)


Excertos de "Os Frutos da Terra", André Gide



"Nathanaël, eu te ensinarei o furor !!!"

"Tu não me dominarás, tristeza! Ouço um canto suave através das lamentações, dos soluços. Um canto cujas palavras invento a meu talante. Um canto que me fortalece o coração quando o sinto prestes a ceder. Um canto que encho com teu nome, Nathanaël, e com um apelo aos que com ânimo responderão:
Erguei-vos frontes inclinadas! Olhares voltados para os túmulos, erguei-vos.

Não para o céu vazio, mas para o horizonte da terra. Para onde te conduzirão teus passos, Nathanaël, regenerado, valente, disposto a sair desses lugares empestados pelos mortos; deixa tua Esperança transportar-te para a frente. Não permitas que nenhum amor ao passado te retenha... Lança-te para o Futuro! A poesia, cessa de transferí-la para o sonho; saibas vê-la na realidade. E se não estiver nela ainda, coloca-a lá!

As sedes não estancadas, os apetites insatisfeitos, os frêmitos, as esperas vãs, as fatigas, as insônias... que tudo te seja poupado, ah, como o desejaria, Nathanaël! Inclinar para tuas mãos, teus lábios, os galhos de todas as árvores frutíferas.

Fazer ruírem os muros, abaterem-se diante de ti as barreiras sobre as quais o açambarcamento ciumento acaba de escrever: "Entrada proibida. Propriedade particular". Obter enfim que te caiba a recompensa integral de teu trabalho.

Erguer tua fronte e permitir enfim que teu coração se encha não mais de ódio e inveja, mas sim de Amor! Sim, permitir enfim que todas as carícias do ar, os raios do Sol e todos os convites à felicidade te atinjam.
Ó tu para quem escrevo – a quem chamava outrora por um nome que hoje se me afigura demasiado dorido, a quem eu agora chamo Nathanaël – não admitas mais nada de dorido no teu coração.
Saibas obter de ti o que torne a queixa inútil. Não implores mais de ourem o que podes obter.

Toma minha alegria. Faze tua felicidade do aumento da de todos. Trabalha e luta e nenhum mal aceites que possas mudar. Cumpre que saibas repetir sem cessar: depende de mim! Ninguém se conforma sem covardia com todo o mal que depende dos homens. Deixa de acreditar, se jamais o acreditaste, que a sabedoria está na resignação; ou deixa de pretender à sabedoria.

Nathanaël, não aceites a vida tal qual a propõem os homens.
Não cesses de te persuadir que ela poderia ser mais bela, a vida; a tua e a dos outros homens; não uma outra, futura, que nos consolasse desta e nos ajudasse a aceitar a miséria. Não aceites!